O PARTIDÃO EM RIO CLARO

O Partido Comunista teve algum relevo em nossa cidade, principalmente entre os ferroviários, maior grupo de trabalhadores na mesma empresa, a saudosa Companhia Paulista de Estradas de Ferro.

Basta lembrar que em 1955 a chapa que derrotou a diretoria (tida como patronal) do respectivo Sindicato, com sede em Campinas, e com base territorial em toda a linha, era composta por comunistas quase que integralmente. Sendo de Rio Claro uns três ou quatro.

Meu pai, Irineu de Oliveira Prado, guarda trem em Rio Claro, foi indicado para o cargo de 2º secretário da Chapa Vencedora na eleição sindical, conquanto não filiado no Partido.

Na oportunidade, o velho Irineu que já se despontava como liderança entre seus companheiros ferroviários, estava sendo cooptado para filiar-se ao P.C.B.

E esta filiação não se dera, principalmente porque, de início, o partido se dispusera a apoiar o Dr. Augusto Schmidt, como candidato a prefeito. E Irineu, que vendia lotes do Bairro Vila Indaiá, de propriedade do mencionado senhor, como seu corretor informal, passou-lhe a decisão partidária.

Tantos foram as vendas intermediadas por Irineu, que a Vila Indaiá é a maior concentração de ferroviários aposentados e familiares. A maioria seus colegas maquinistas e guarda-trens.

Numa reunião posterior, Irineu deparou-se com dirigentes partidários da Cúpula Estadual, que não eram seus conhecidos, afirmando que o Partido em Rio Claro não iria apoiar Dr. Schmidt, a quem inclusive chamavam de nazista, absoluta inverdade.

Diziam estes da Cúpula Partidária que o P.C.B., em Rio Claro, iria trabalhar pela vitória do outro candidato, que seria João dos Santos Neves, a quem atribuíram grandiosas qualidades e que havia contribuído significadamente com o Partido e com o Diretório.

Mas o velho Irineu, e apenas ele, não concordou com a mudança imposta por dirigente de fora, contrariando o decidido em reunião anterior, o que já informara ao Dr. Schmidt.

Disse mais, que não iria filiar-se a partido com procedimento semelhante, que não mais participaria de reuniões, as quais serviriam para aprovar sua admissão aos quadros partidários.

Informou ao Dr. Augusto Schmidt (o qual em 1964 não correspondeu à amizade, conforme escrevi oportunamente) que continuaria votando nele, e conclamando seus colegas que fizessem o mesmo.

O fato é que Dr. Schmidt foi eleito Prefeito, talvez sem que apoio dos ferroviários fosse decisivo. É verdade que não cumpriu seu mandato, em face da Concordata (hoje recuperação judicial) de sua empresa, em 1957 ou 1958.

Com o passar do tempo, a importância do P.C.B. local praticamente desapareceu, tanto que por volta de 1964, quando os comunistas foram acusados de até se alimentar de criancinhas, não deviam passar de duas dúzias. Todos trabalhadores e homens de bem. Numa época que eu tinha idade (16 anos) suficiente para conhecer algo da política geral, e de Rio Claro.

Hoje a importância dos atuais partidos comunistas em Rio Claro é quase nenhuma. Nem vereadores elegeram nas últimas eleições.

Evidentemente, o que aqui relato decorre apenas de minha memória, e do que tive oportunidade de ouvir do meu querido pai, há vinte anos na eternidade.

 

Irineu Carlos de OLIVEIRA PRADO

Desembargador Aposentado (TJ/SP).

Advogado militante nesta Comarca.

e-mail: oliveiraprado@aasp.org.br

www.oliveirapradoadvogados.com.br

Publicado em 05/10/2017, Jornal Cidade, Página 02.

Você pode gostar...

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *