PROFESSOR HELMUT TROPPMAIR

Tenho sempre dito que não vejo profissão ou título mais importante que o de Professor. Certamente, a exemplo de outros que tiveram o privilégio de estudar (como eu ao meu tempo e outros filhos de ferroviários e trabalhadores em geral) os bons mestres jamais são esquecidos, nem fatos que os envolvam.

Do Professor Helmut já escrevi sobre a confusão entre não pegar o ônibus (no sentido de embarcar) ou não pegar (funcionar o motor do veículo), com consequente atraso.

Ocorreram-me, agora, mais três fatos que tenho registrado em minha memória, um tanto fustigada pelo tempo, envolvendo o Professor Helmut, em minha primeira série ginasial, no Alem, em 1959.

Ao aluno que devolveu, toda dobrada, a folha da prova, por certo com nota baixa, que levara para colher o visto paterno, o professor não se conteve. Redobrou a folha, seguindo as marcas, até que esta ficou como o aluno a trouxera de casa. O pequeno pacote o professor colocou no bolsinho de sua calça e logo foi dizendo, nada calmo: “senhor fulano, este bolso é para guardar relógio, e não para a folha de prova”.

Na época as calças masculinas tinham bolso, próximos do cóz, para os relógios de bolso, que poucos usavam (apenas os mais idosos).

Quanto ao aluno que mascava chicletes na sala de aula, o professor mandou que o jogasse no lixo, no canto da sala, ao pé do quadro negro. Talvez isto (como na bronca do bolso de sabatina) não fosse politicamente correto, nem produzisse algum efeito pedagógico. Mas não ficou só nisto. Professor Helmut, com desenho na lousa, demonstrou quanto a mastigação de chicletes era prejudicial à saúde, porque dava ao estômago a sensação que comida estava sendo ingerida, com a produção de sucos que, sem a comida ingerida, produziam malefícios à saúde. Penso que pregou no deserto, embora com eloquência.

Por fim, preciso reconhecer que, sob influência do Professor Helmut, dediquei-me a usar caneta tinteiro – o que faço hoje com absoluta frequência – sendo possuidor, ou colecionador deste instrumento, até exageradamente.

Disse o mestre, de forma bastante didática, que canetas esferográficas, que estavam aparecendo na época, cansavam o pulso de quem a usasse, porque precisavam ser apertadas contra a folha escrita, ao contrário de canetas tinteiro, que deslizavam.

Não posso deixar sem registro que o Professor Helmut, conquanto exigente, bem esclarecia sua matéria (matemática). Possivelmente ele não se lembre de mim, mas eu me lembro muito dele, e o cumprimento, com alegria, sempre que cruzo com ele.

E não perco a oportunidade de, através do colega advogado Edgard, seu filho, mandar-lhe meu respeitoso abraço, quando nos vemos.

 

Irineu Carlos de OLIVEIRA PRADO

Desembargador Aposentado (TJ/SP).

Advogado militante nesta Comarca.

e-mail: oliveiraprado@aasp.org.br

www.oliveirapradoadvogados.com.br

Publicado em 21/09/2017, Jornal Cidade, Página 02.

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