PETROBRÁS & BOB FIELDS
Há muitos anos (1997), desde quando li a autobiografia do Embaixador Roberto Campos (“A Lanterna na popa”, Top Books, 2ª. edição, 1994), revi o conceito que tinha do importante economista, diplomata e político. Verdade é que a pecha de vendido aos interesses americanos eu admitia desde minha juventude, por certo ingenuamente.
Eram tempos da ditadura — que me atingiu fortemente, como muitos sabem, e que oportunamente ainda contarei — e Bob Fields, como pejorativamente era chamado, ocupava o Ministério do Planejamento (inicialmente de Castelo Branco). Como superministro criou, idealizou (ou ajudou na criação), o FGTS – Fundo de Garantia do Tempo de Serviço, a Correção Monetária, o parcelamento da Dívida Externa, a mudança do Cambio (com o aumento do dólar), etc. Antes disto, já participara da fundação do então BNDE – Banco Nacional do Desenvolvimento depois BNDES, com o acréscimo de Social.
Além do tema principal deste artigo (Petrobrás), no mencionado livro, Roberto Campos faz uma afirmação de grande sabedoria: não importa a quem pertença a fábrica, o importante é que pague impostos no Brasil, e que empregue brasileiros. Isto era dito para os que criticavam a presença de empresas estrangeiras (multinacionais como hoje se diz), que obtinham lucro em nosso pais. Evidentemente, num mundo capitalista, e enquanto o regime do país assim o seja, nada mais natural que as empresas, nacionais ou não, lucrem. Por outro lado, e na atualidade, não seria maravilhoso, se os milhões de desempregados pudessem estar trabalhando em multinacionais?
No que se refere à Petrobrás, também com grande sabedoria e oportunidade, Roberto Campos oferece duas grandes ponderações: a) é a de operação mais cara do mundo; e b) nada justifica o seu monopólio.
Louvando-se em informações precisas, o Autor demonstra que o barril de petróleo refinado pela Petrobrás, é muito mais caro do que o das demais petroleiras do mundo, as quais têm muito menos empregados (e diretores), com salários significativamente inferiores aos da nossa.
Quanto ao monopólio, a verdade – praticamente axiomática — defendida por Campos, é portentosa: se a Petrobrás é competente, não precisa do monopólio, e se não é, não o merece.
Fugindo um pouco do livro, admito que já entendi, como muitos, que a Petrobrás deve ter o monopólio petrolífero. Diante de tudo que está acontecendo – e desde pelo menos doze anos — nessa gigantesca empresa, tenho dúvidas se isto deve permanecer.
Em primeiro lugar, há no mundo capitalista (inclusive Rússia), alguma empresa que se assemelhe com a Petrobrás e seu monopólio? É claro que, mesmo nos países árabes, há petroleiras multinacionais explorando esta riqueza, que não deve durar eternamente.
Alguém já imaginou, nos Estados Unidos, uma Americanpetro monopolista? É evidente que ninguém supôs que corrupção na Petrobrás chegasse até onde chegou. Mas dá para imaginar algo parecido, numa empresa particular? Nestas, normalmente, os controles externos e internos teriam detectado a primeira falcatrua. Mas a Petrobrás ficou tão grande, que seus dirigentes sentiram-se endeusados e, pelo que se tem divulgado, sem medo de qualquer punição.
Daí porque entendo – com todo respeito aos que discordem – que o monopólio de tudo referente ao petróleo, não deu certo. Precisamos ter a ousadia de pensar em alternativa, ainda que os políticos e os partidos da base do governo fiquem sem fonte de financiamento. E os dirigentes corruptos sem ter o que dirigir.
Por estas e outras que constam do mencionado livro, concluo hoje que Roberto Campos não foi tão desastroso para o país, como muitos acham.
Irineu Carlos de OLIVEIRA PRADO
Desembargador Aposentado (TJ/SP).
Advogado militante nesta Comarca.
e-mail: oliveiraprado@aasp.org.br
www.oliveirapradoadvogados.com.br
Publicado em 28/07/2016, Jornal Cidade, Página 03.
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