CASOS & FATOS QUE VI, VIVI E OUVI DIZER. APRESENTAÇÃO.

De uns tempos para cá tenho ficado a refletir se o que meus cabelos brancos representam (tempo de vida, de trabalho, situações insólitas, fatos alegres e tristes, que presenciei e vivi, pessoas interessantes que conheci, etc.), não mereceria ser conhecido de outras pessoas, além daquelas que por serem da família, ou amigos, já sabem.

Demorei um pouco a me decidir. Como todos sabem, com minha aposentadoria voluntária, em agosto de 2.000, depois de 35 anos de serviço, quando Juiz do 2o Tribunal da Alçada Civil de S. Paulo (hoje extinto e integrado ao Tribunal de Justiça), decidi advogar  em tempo integral. E isto, muito mais pela generosidade dos amigos do que por mérito pessoal, tem-me tomado um tempo que não imaginava. A par de uma razoável clientela que me traz muito mais alegrias pelos resultados das demandas, e da confiança que em mim depositam,  do que vantagens materiais, dos jovens advogados e estagiários que me exigem atenção, mas que me remoçam, preciso reconhecer que os tempos mudaram muito a advocacia, desde a época em que a deixei, em fins de 1979, para o exercício da Magistratura. Está, no mínimo, muito mais trabalhosa.

Bem, de qualquer forma, encontrei tempo e coragem, e espero que meus textos mereçam publicação e leitura.

Sei que meus quase sessenta anos  (já completei 59) não devem ter muito mais a ser contado do que as ocorrências de outras pessoas. Ouso supor, porém,   que deva ter algo a ser transmitido que mereça a atenção dos que me vierem a ler (além de minha querida esposa, filhos, e outros parentes e amigos).

Afinal, desde garoto fui secretário datilógrafo de meu saudoso pai, Irineu de Oliveira  Prado, ferroviário, sindicalista e vereador em Rio Claro  — que o homenageou dando seu nome à simpática Praça da rua 14 com avenida 26 — o qual foi preso pelos poderosos do golpe de 01/04/64, e cuja prisão eu presenciei, sofrendo com ele e minha família as conseqüências daí decorrentes.

Permitiu-me o Todo Poderoso nascer nesta Cidade Azul. Estudei na Escolinha da Da. Gina Andretta (Escola Municipal Mista da Cidade Nova), no Ginásio Koelle, no Ginásio e  Colégio Alem e no saudoso Instituto de Educação Joaquim Ribeiro.

Além de outras atividades profissionais, na Delegacia do CIESP, no escritório da extinta Arbor Acres, como Contabilista em Dourado, e encarregado de escritório na Construção de Ilha Solteira, advoguei nesta Comarca de Rio Claro por quase nove anos. Colaborei direta e decisivamente, na fundação de quatro sindicatos de trabalhadores em Rio Claro, e um em  Piracicaba, bem assim de uma cooperativa de transportadores autônomos.  Digo sempre, e com orgulho, que as fundações deram-se praticamente em meu escritório, sendo de minha redação e escrita os editais das assembléias de fundação das Associações Profissionais (que na época devia preceder a autorização para o Sindicato existir) e da Cooperativa. Mais, todos os estatutos dessas entidades foram por mim redigidos e datilografados (sim, naquele tempo a escrita era mecânica, em máquinas de escrever ou, de datilografia).

E para meu júbilo, vejo estas entidades (Sindicato dos Condutores Autônomos, dos Trabalhadores na Saúde, dos Empregados no Comércio, dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários (motoristas empregados) de Rio Claro, e dos Gráficos de Piracicaba e Região, assim como a COTRARC – Cooperativa dos Transportadores Autônomos de Rio Claro Ltda.., em pleno funcionamento. E isto me dá uma alegria de pai, que vê os filhos crescidos: alguns bem sucedidos e mais atuantes; outros menos; uns que reverenciam a figura paterna, outros que nem tanto, etc. Mas com dois deles (a Cooperativa e o Sindicato dos Condutores Autônomos), quis a Providência que fosse eu por eles contratado como advogado, após minha aposentadoria. E estamo-nos dando muito bem, enfrentando os novos objetivos e lembrando sempre das batalhas passadas.

Minha advocacia foi, entre 71 e 79, na fase anterior à Magistratura, em maior parte, trabalhista para empregados. Além dos já mencionados, defendi os trabalhadores filiados ao Sindicato dos Ferroviários, dos Trabalhadores da Alimentação (ainda hoje presidido pelo meu compadre José Ramos), e dos Trabalhadores Rurais.

Entre 76 e 79, redigi a coluna semanal “Sindicalismo em Marcha”, a convite do saudoso Dr. Pires, neste mesmo Jornal, com notas das atividades dos sindicatos de Rio Claro.

E, como todos já devem saber, tive a honra suprema -— que me acompanhará até quando meus  olhos não mais se abrirem — de exercer a Magistratura do Estado de São Paulo, em todas as suas instâncias, por quase 21 anos.

Do que posso contar, tenho muito. E contarei, esperando não ser desagradável.

Irineu Carlos de Oliveira Prado

Desembargador Aposentado do Tribunal de Justiça de S. Paulo,

e advogado militante na Comarca de Rio Claro.

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