AUGUSTINHO KNUDSEN

Ao tempo em que trabalhei para a Delegacia local do CIESP – Centro das Indústrias do Estado de S. Paulo, anos 1966/68, conheci e fiz amizade com o senhor Augusto Knudsen Filho, que estudou na então Escola Agrícola Luiz de Queiróz, famosa faculdade em Piracicaba.

Era Delegado o senhor Luiz Couto, por quem tenho especial consideração (Ver “Cidade” de 04.01.18, segunda página), e a Delegacia do CIESP ficava instalada em duas salas alugadas de Augustinho (avenida Um, n.  496, Centro, de frente para o Variedades, ainda cine teatro). Ficavam vizinhas de outras duas, ocupadas pelo cirurgião dentista dr. Machado Luz (de cujo prenome não me lembro), todas fazendo parte do que seria a antiga residência do locador, que ainda residia ao lado.

Knudsen me chamava por Pradinho e, sempre que possível trocávamos algumas palavras. Ele era à época ainda fotógrafo, no tempo em que se tirava foto em estúdio, para documentos, dos noivos, dos compradres, etc.

Numa dessas conversas, sempre agradáveis, Augustinho disse-me que ao tempo de acadêmico da Escola Agrícola, esteve às voltas com a polícia em duas ocasiões. Sempre lembrando que à época não era regra bater em estudantes.

Na primeira ocasião porque atearam fogo no Bonde da linha à Escola, em protesto contra o aumento da tarifa, tido como elevado.

Doutra feita porque soltaram um urubu dentro do cinema, durante uma sessão noturna, o que causou previsível confusão aos frequentadores, com luzes acessas, e tudo mais bem previsível.

Dois dos frequentadores vestidos com capa de chuva foram tidos como suspeitos pela arte, de pronto. Um acadêmico e outro Delegado de Polícia. Segundo Augustinho, o argumento dos acadêmicos de que a façanha bem poderia também ser da autoridade policial (embora absurda possibilidade) acabou prevalecendo, e o caso acabou ficando por isto mesmo.

Nestes anos todos, nunca pude confirmar a ocorrência destas proezas estudantis. Porém há poucos dias deparei com o livro “História dos Transportes Coletivos de São Paulo” (Waldemar Corrêa Stiel, Editora Universidade de São Paulo, 1.976), que adquiri há anos.

E não é que, ao ler as páginas sobre o serviço de Bondes elétricos em Piracicaba (instalado em 1.916, esteve em atividade até 1.969, e eu tive oportunidade de vê-lo funcionando), encontrei relato sobre o incêndio do bonde, embora constando outro motivo,  que não o aumento na passagem.

Transcrevo o que consta na página 303 da mencionada e importante obra, sobre a qual ainda mais escreverei: “E os serviços foram ficando cada vez pior, até que no dia 29 de abril de1.932, numa sexta-feira, os alunos da Escola Agrícola, em número de 80, que aguardavam no ponto terminal da linha o bonde que os levaria de volta à cidade, às 13 h e 20 min. Após esperarem muito tempo e vendo o carro chegar só, sem o reboque costumeiro, se revoltaram, pois não cabiam todos naquele pequeno bonde, quando muito a metade. Empurraram o veículo além dos portões da Escola, e na Praça Tuiuti atearam fogo ao carro, que dentro em pouco ficou reduzido a ferragens”.

Espero, nalgum dia, encontrar registro do ocorrido sobre o urubu solto no cinema. Não por duvidar de Augustinho, mas para ver se a inusitada ocorrência mereceu despacho de arquivamento da autoridade policial.

Quanto a Luiz Couto, a que me referi nas primeiras linhas, infelizmente, não o vejo com a frequência que gostaria. Mas sempre que encontro seus filhos, não me esqueço do quanto confiou em mim. Quiçá sem que eu pudesse retribuir ou merecer. Rogo sempre ao Senhor que abençoe Luiz Couto, credor permanente de minha admiração e apreço, nos seus vitoriosos 94 anos.

O Autor é advogado militante na

Comarca de Rio Claro (OAB/SP 25.686) e

Desembargador Aposentado (TJ/SP).

E-MAIL: oliveiraprado@aasp.org.br

www.oliveirapradoadvogados.com.br

Publicado em 26/01/2023,  Jornal Cidade (Rio Claro/SP), Página 02.

 

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