INTOLERÂNCIA, BIKINI & BURKINI
O assunto já perdeu um pouco da oportunidade, com o fim do verão europeu, mas tem-me assustado a intolerância francesa, ou de políticos franceses – o que é quase a mesma coisa – com costumes de muçulmanos, ou mais especificamente de muçulmanas, quanto a seus trajes.
Tentou-se proibir às mulheres muçulmanas que usem o véu islâmico (“hijab”) em público, assim como se trajem do que se chamou de burkini, roupa de banho que cobre o corpo inteiro, exceto o rosto.
Fala-se de alunas que foram proibidas de frequentar aulas, ou mesmo de se submeter a provas escolares, portando o véu islâmico, ainda que com a face descoberta. Isto causaria desconformidade com as outras alunas, implicaria em submeter o sexo feminino a uma posição subalterna, e também porque sendo laico o Estado francês, não haveria como se admitir manifestação religiosa no interior de estabelecimentos públicos escolares.
Seria muito difícil para quem registra em sua história uma posição libertária e avançadíssima, com a revolução francesa a proclamar liberdade, igualdade e fraternidade, tolerar que mulheres de origem árabe cumprissem um preceito religioso ?
Evidentemente, já não me refiro ao uso da “burka”, em que todo o corpo fica escondido, inclusive o rosto. Aí a segurança é mais eloquente: a coletividade francesa tem direito de saber a identidade da mulher, e o uso público de tal indumentária feminina não pode ser autorizado. O povo árabe haverá de entender.
Como se sabe, as experiências com bombas atômicas da França, logo após o fim da 2ª. Grande Guerra, deram-se no Atol de Bikini, possessão francesa no Oceano Pacífico. E a origem do nome de batismo deste maiô de duas peças (cada vez menores) remonta ao surgimento da moda ao tempo das experiências nucleares.
Agora, mais uma vez fico intrigado. Se é permitido frequentar as praias e mares franceses com bikinis (ou até com menos do que isto), porque a implicância com as mulheres muçulmanas que, por preceito religioso, vão ao mar com os tais burkinis ? Sem a exposição de seus corpos, que sua religião proíbe.
Fique observado que o burkini permite identificação da usuária, pois o rosto fica descoberto.
A intolerância francesa, nestes dois aspectos sob comentário, e que parece – felizmente – não ser a unanimidade, não está merecendo o acolhimento total do legislador, nem dos tribunais. Ainda bem..
Mas deve ser bom indício porque os imigrantes árabes não se integraram com o povo francês, vivendo em bairros isolados. Praticamente não há casamentos mistos, os franco-árabes são os menos escolarizados, e os mais atingidos pelo desemprego.
Permita Deus que esta intolerância seja superada.
Finalizando, fico a pensar porque em nossas terras brasileiras nada disto se observa, de forma significativa. Será por conta de nossa cultura de povo cristão e subdesenvolvido, ou porque nossos políticos têm outras preocupações mais rentáveis?
Irineu Carlos de OLIVEIRA PRADO
Desembargador Aposentado (TJ/SP).
Advogado militante nesta Comarca.
e-mail: oliveiraprado@aasp.org.br
www.oliveirapradoadvogados.com.br
Publicado em 29/12/2016, Jornal Cidade, Página 02.
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