FERROVIAS: COMEÇO DO FIM

Cansei de ouvir que as ferrovias brasileiras e, especialmente, as paulistas, vieram a desaparecer pelo sucesso da indústria automobilística. Como se na Europa e nos Estados Unidos não existissem, bem postas em suas atividades, as ferrovias e as fábricas de automóveis.

Sempre pedi licença para discordar. O fim de nossas ferrovias, em termos de exploração comercial, e no transporte de passageiros, deu-se pela estatização delas.

Não preciso dizer que o Estado (ente estatal, que pode ser a União, o Estado e o Município) é o pior empresário. No que se refere a empregos, então é o já conhecido “cabidão”, para agasalhar todos os correligionários.

Temos visto empresas estatais claudicantes, e deficitárias. Sob administração particular tornam-se lucrativas. É o caso da Companhia Siderúrgica Nacional e a Vale do Rio Doce, após privatização.

Em nosso Estado, lembro que a Santos a Jundiaí, cuja concessão venceu-se nos anos sessenta, até então foi administrada pelos ingleses da São Paulo Railway (SPR), que não se interessou por prosseguir na atividade. Com tarifas desatualizadas, os ingleses simplesmente deixaram tudo para o Governo Federal, que incorporou a antiga SPR na Rede Ferroviária Federal, juntamente com outras ferrovias, onde deu-se o mesmo desinteresse. E a Rede, enquanto existiu foi deficitária, com péssimos serviços.

Em São Paulo já eram estaduais as Estradas de Ferro Sorocabana, Araraquarense, Mogiana e Campos de Jordão. Isto em 1961, quando os ferroviários da Companhia Paulista estavam em greve (inclusive meu falecido pai, diretor do Sindicato), por aumento de salários.

A Diretoria da Paulista, cuja concessão era estadual, informou ao Governador (Carvalho Pinto) que só poderia atender ao movimento paredista vitorioso, se tivesse as tarifas aumentadas (estas defasadas), ou se o Estado lhe desse subvenção de tantos milhões de cruzeiros.

Ocorre que o Governador não fez uma coisa nem outra. Desapropriou as ações da Companhia, ficando o Estado acionista majoritário, com o que elegeu a diretoria com elementos de sua confiança, que atendeu os ferroviários, cessando a paralização.

Pouco após a posse da sua diretoria, o Governo do Estado autorizou o aumento das tarifas.

A partir daí a Paulista começou a se acabar. Se na primeira diretoria havia pessoas competentes e, dos quadros da ferrovia, as que se seguiram reunia cidadãos que nada entendiam de estradas de ferro, ou de administração. Alguns que nunca viajaram de trem, todos amigos do governo.

A Paulista, na administração estadual, nunca mais operou com superavit. O quadro de empregados foi inflado, os trens de passageiros deixaram de cumprir seus horários (ao tempo anterior, acertava-se relógio com seus horários) e tantos outros atos administrativos errados deram-se, também nas demais ferrovias estaduais, agrupadas como FEPASA Todas foram e entregues ao Governo Federal, em pagamento do que o Estado devia para a União.

Temos agora a RUMO, que explora também o antigo leito da Paulista, em transporte principal de grãos do Mato Grosso ao Porto de Santos e que, sob administração particular, tem quadro de pessoal enxuto e, por certo, aufere lucro em sua atividade.

Ainda exercendo a Magistratura (aposentei-me em agosto/2.000) ouvi do Desembargador Menezes Gomes que foi dele, quando oficial da PM, e no gabinete do Governador, já bacharel em Direito, a sugestão para o Governador Carvalho Pinto desapropriar as ações da Paulista.

Com isto, Rio Claro só verá trem de passageiros quando a Comissão pela Volta dos Trens de Passageiros, da OAB local, for exitosa.

Comarca de Rio Claro (OAB/SP 25.686) e

Desembargador Aposentado (TJ/SP).

E-MAIL: oliveiraprado@aasp.org.br

 

Publicado em 10/08/2023,  Jornal Cidade (Rio Claro/SP), Página 02.

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1 Resultado

  1. Simone Widmer disse:

    Excelente artigo

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