O PADRE & A DITADURA

Não pude comparecer no Salão da Capela de Santa Luzia, ao lançamento do livro “O Padre que veio de longe”, pelos seus autores, o Padre Antônio Sagrado Bogaz e o Professor João Henrique Hansen, Edições Achiropita-Orione. Isto no começo deste mês.

Logo depois, numa segunda feira, na reunião da Conferência Vicentina de São Dimas, rápido comentário do Confrade Lincoln Magalhães, despertou meu interesse pela obra, de grande valor religioso e até histórico.

E o que mais me chamou atenção foram alguns capítulos, em que se comenta sobre a última ditadura, com perseguição a políticos contrários, prisão ilegal, tortura, cassação de mandatos, etc.

Espero – de todo coração — que o relatado no livro como atos da ditadura e dos poderosos do momento, tenha sido ficção, porque o narrado aconteceu com muitos brasileiros e foi magnificamente horrível. E que não se tenha dado com os autores ou seus familiares e amigos.

É que eu e minha família sofremos muito com tais desmandos, como já tive oportunidade de relatar (“Aniversário a esquecer”, Cidade, 08.04.21), embora em dose menor que personagens do “romance bibliográfico”.

Comentei em meu último artigo (“Posse presidencial” – Cidade do último dia 15) que a não posse do presidente eleito – em quem não votei, repito — só pode ser a implantação da ditadura, com autoritarismo, desrespeito aos direitos civis, humanos e eleitorais, prisões ilegais, censura da mídia, e muito mais.

Com a ditadura, personagens do livro tiveram mandato parlamentar e direitos políticos cassados; a filha do político foi presa ilegalmente, violada e torturada. Como  tantos brasileiros, na vida real.

Outro, o Padre do título, verdadeiro pastor admirado pelos seus fiéis, precisou “estudar” na Itália, e sua irmã também se exilou no exterior. Sendo o sacerdote aquinhoado com excelsas e raras qualidades no ministrar sua santa Missão.

Com toda certeza, estas crueldades ninguém deve esperar e desejar em nosso país que – com a Graça do Senhor – há de prosseguir com o respeito constitucional aos direitos de seus cidadãos.

Claro que não tenho pretensão de comentar o livro com o rigor de crítico, já que me falta qualificação para tanto. Mas gostei do livro. Tanto que na tarde de segunda feira dia 19 adquiri meu volume. Comecei a lê-lo por volta das dezoito horas e, de uma só sentada, li-o por inteiro, até encontrar-me com a madrugada.

Mas, fora a questão da ditadura, cujo fim é tratado na obra, esta traz muito da dedicação do sacerdote que indo quase fugido para Roma, acaba sendo elevado a Bispo e depois a Cardeal.

Vê-se, ainda, a “política” da cúpula do Vaticano, com perseguição  ao muito culto e preparado Padre, sempre querido e aclamado por seus fiéis.

Por fim, devo transcrever interessante diálogo entre o Cardeal perseguidor (aspirante ao Trono de São Pedro), e o então Bispo perseguido, por razões que romance acaba revelando. Correndo o risco de ser designado para algum inferno no fim do mundo.

— Obrigado Senhor. Sei que achará um lugar onde poderei ser um bom pastor.

— Estou entre os indicados para ser Papa. Se acontecer pela Graça do Espírito Santo, farei isto no segundo dia de meu mandato.

—  Se acontecer isso, Eminência, deixarei de acreditar no Espírito Santo.

Autor é advogado militante na Comarca de Rio Claro (OAB/SP 25.686)

Desembargador Aposentado (TJ/SP)

E-MAIL: oliveiraprado@aasp.org.br

www.oliveirapradoadvogados.com.br

 

Publicado em 29/12/2022,  Jornal Cidade (Rio Claro/SP), Página 02.

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