A.R., “AD HOC” & MEDÍOCRE.

Suponho que a outros também tenha ocorrido de lembrar-se da primeira vez que ouviram determinada expressão, sem saber qual seu verdadeiro sentido. Tenho anotado muitas delas. Mas tratarei de apenas três, por ora.

Deveria ser por 1.956, mais ou menos. Meu pai era diretor do Sindicato dos Ferroviários, e estava em casa, na rua 5B, Vila Indaiá, conversando com e orientando pequeno grupo de ferroviários aposentados, dentre eles um senhor idoso (como os demais) que seria presidente da UFA – União dos Ferroviários Aposentados. Naquela época entidade pobrezinha, perto da grandeza moral e patrimonial que é a UFA dos dias atuais.

Recordo-me que o presidente Dias, calçando – pobremente – um par de alpargatas roda (calçado de pano, com sola de corda de sisal), num determinado momento, afirmou que a reivindicação tratada na oportunidade, seria enviada por ofício às autoridades competentes, com A. R.

Só depois da reunião que o garoto de oito anos pode saber por que o Sr. Dias afirmava que os destinatários não poderiam negar o recebimento dos expedientes. Naquela época o Correio, como hoje, tinha um serviço em que o remetente recebia um Aviso de Recebimento – A. R. da correspondência. Com o que estariam documentados a entrega e o recebimento.

Era eu empregado do CIESP – Centro das Indústrias do Estado de São Paulo, em sua delegacia local, sendo titular cidadão de elevadas virtudes, o industrial Luiz Couto.

À Sociedade Amigos da Cidade, que se pretendia reerguer, na época (1964/65) foi cedida a sede da Delegacia da entidade, para reuniões daquela que, lamentavelmente, acabou desaparecida, não se sabendo onde estão seus arquivos, valiosos, por certo.

Numa noite, estava eu na reunião, quando foi lembrado que a Sociedade estava sem Secretário para redigir a Ata. Foi então que o Professor Manoel Afonso Moreno, antigo diretor do Marcelo Schmidt, e de saudosa memória, ponderou, com a anuência dos demais “proponho que o Prado seja o secretário ‘ad hoc’”. Eu sabia o significado da expressão latina (para este fim, para isto), mas desconhecia sua aplicação na prática.

José Crespo, além de ter sido eficiente diretor de nosso DAAE, foi dirigente Sindical dos Eletricitários, Vereador e Professor de Português no Alem, no meu tempo de ginásio (1.961/62). Todas as atividades exercidas com brilho.

Em 1.964, meu velho pai, afastado dos serviços ferroviários por razões políticas, precisava trabalhar para sustento da família, enquanto não se processava o Inquérito Trabalhista para apuração de falta grave, em que foi vitorioso, 28 meses depois, período em que não recebeu salários.

Numa certa tarde, estávamos trabalhando (eu de ajudante) no madeiramento da casa na Bela Vista, de Rafael Gomes, Guarda trem como meu pai, e falecido há pouco tempo, com mais de 90 anos.

Foi então que apareceu na obra o Prof. Crespo, pilotando a moto que usava em seu serviço de fiscalização da então Central Elétrica de Rio Claro, depois CHERP, depois CESP, e agora Elektro.

E parou para bater papo com meu pai, pois eram amigos. Ao ser lembrado que eu havia sido seu aluno, o grande professor disse que eu era aluno medíocre. Ocorre que eu sabia ter sido bom (ainda tenho os boletins com notas elevadas) isto me chateou. Mesmo que tivesse a expressão sido indicativa de aluno mediano, fiquei sentido. Embora mantida minha admiração pelo mestre.

Posteriormente, ocorreu-me de pensar se o professor não teria falado por brincadeira, ou se seria acordo com meu pai, para me importunarem.

Porém, com a morte de ambos, nada pode ser apurado.

 

O autor é Desembargador Aposentado (TJ/SP) e

Advogado militante nesta Comarca (OAB/SP 25.686).

E-mail: oliveiraprado@aasp.org.br

WWW.oliveirapradoadvogados.com.br

 

Publicado em 30/01/2020, Jornal Cidade, Página 02

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