NATAL E SÃO DIMAS.

A melhor celebração de Natal que participei tem tudo a ver com São Dimas. Sim, este mesmo que teria sido o bom ladrão.

Por volta de 1971 ou 1972, minha preocupação com os presos de nossa então cadeia pública, levou-me à Conferência de São Dimas; ia ao Presídio algumas vezes conversar com presos que defendia por conta da Assistência Judiciária de então, no que nada os advogados recebiam financeiramente.

Eram muito agraciados com experiência e alegria em ajudar o próximo.

A convite de Lúcio Guedes de Camargo, fui levado à Conferência de São Dimas, da Sociedade de São Vicente de Paulo.

Esta sociedade, cujos integrantes são chamados de Vicentinos, é o braço da Igreja Católica, que se dedica a assistir material e espiritualmente os necessitados, desvalidos da sorte. No caso, os detentos da então Cadeia Pública.

Conferência é a célula primeira dos Vicentinos, que hoje, de modo geral, realiza os ideais do fundador de Sociedade, o Bem Aventurado Frederico Ozanam, visitando as famílias cadastradas, verificando no que podem ser assistidas, e prestando-lhes ajuda material e conforto espiritual.

Há conferências em todas as Paróquias do Brasil. Em Rio Claro temos 31. A Conferência de São Dimas dedicava-se, em sua fundação, à assistência dos reeducandos de nossa cadeia pública, e seus familiares. Tinha o incentivo e o prestígio dos saudosos Dr. Luisinho de Arruda Campos (por mais de vinte anos Juiz de Direito na Comarca de Rio Claro) e do Dr. Alcyr Menna Barreto de Araújo (então Promotor de Justiça no Fórum local).

O trabalho vicentino na cadeia pública, no prédio onde hoje se alojam as meninas do Centro de Ressocialização Feminino, em linhas gerais, era de palestras no Pátio do presídio, com todos que quisessem participar (e a grande maioria sempre esteve presente).

Estas palestras, mais conversas de cunho evangelizador, ficavam a cargo de Lúcio Guedes. Eu o acompanhava, apenas para carregar seus livros. Várias senhoras também estavam conosco (lembro-me bem de Clarice Sartori, e as outras que perdoem minha memória falha). Além de nos acompanhar, todos os sábados à tarde, nas conversas informais com os reeducandos, elas visitavam as famílias, levando palavras de conforto, e sacolas de alimentos (não se falava de cesta básica naquele tempo).

Sobre tudo o que foi feito pela Conferência de São Dimas, no cumprimento do Evangelho de Mateus (Cap. 25, versos 34/40) ainda voltarei a escrever.

Hoje a Conferência de São Dimas atende à população do Bairro da Bela Vista (Capela de Santa Luzia, Paróquia de N. S. da Saúde).

Porém, o que me vem à lembrança, e que guardarei enquanto o Senhor me permitir viver, é uma Ceia idealizada pelo nosso presidente (Lúcio), na noite de 24 de Dezembro de 1971 ou 1972, no Pátio da Cadeia Pública, para os detentos e familiares, encerrando os trabalhos evangélicos do ano.

Após Cerimônia Religiosa, a ceia preparada por nossas consócias, foi servida por mim, Lúcio e Dr. Alcyr.

Não que os alimentos servidos fossem faustosos. A Ceia era até simples. Mas a alegria dos que dela participaram era imensa. Não menos dos que a prepararam e dos que a serviram.

Infelizmente, outra Ceia como esta não mais se realizou.

Mas o trabalho dos Vicentinos, apoiados pelas autoridades já referidas, produziu vários e valiosos frutos. Muitos se recuperaram, para nossa felicidade.

É claro que os Vicentinos não fizeram mais do que sua obrigação. Daquele Natal nunca me esquecerei.

Feliz e Santo Natal para todos.

E como os Vicentinos se saúdam, Louvado Seja Nosso Senhor Jesus Cristo!

 

Irineu Carlos de OLIVEIRA PRADO

Desembargador Aposentado (TJ/SP).

Advogado militante nesta Comarca.

e-mail: oliveiraprado@aasp.org.br

www.oliveirapradoadvogados.com.br

Publicado em 21/12/2017, Jornal Cidade, Página 02.

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