EVITA PERON & JANJA DA SILVA

Provavelmente nossa Janja, ao que se sabe muito mais culta e escolarizada que Evita, pode não chegar a ser chamada de Santa, e na mesma intensidade, como Evita foi e ainda o é, na cabeça dos antigos, na grande porção platense que se diz peronista, ou aficcionada do Justicialismo criado pelo General Peron.

Sobre Santa Evita já tive oportunidade de escrever (“Se Evita Vivera seria montonera” – Cidade, 26.11.19), embora sob enfoque diverso do que hoje.

O que se sabe é que a Primeira Dama portenha, além de exercer assistência social gigantesca, e de grande intensidade material, mostrou atividade política individual, e de influência sobre seu marido.

Verdade que o Tesouro argentino estava nas alturas, especialmente pela exportação de trigo e carne nos tempos da segunda Guerra Mundial. Afirmava-se, então, que a Argentina figurava entre as cinco nações mais ricas do mundo. Certo que, de lá até hoje, seus políticos conseguiram deixar sua economia até pior que a brasileira.

Mais por assistencialismo, do que por ideias de política, administração e filosofia, Evita desfrutava de formidável prestígio popular, quiçá maior do que seu marido.

Poderosa, dizia-se que em Argentina nada acontecia na administração pública sem que Evita estivesse de acordo.  Exerceu, segundo fontes biográficas seguras, grande influência sobre seu marido, ministros, senadores, deputados, etc., os quais tinham por ela elevado respeito e até temor.

E neste mister, de influenciar o Presidente, é que Janja e Evita estão parelhas. Talvez em diferente intensidade e resultado, mas presente a preocupação de interesse em favor do povo. No que acredito.

Por certo Janja não é, nem será tão poderosa quanto Evita, e sua prática assistencialista é pífia. Até porque o orçamento e o tesouro brasileiros, nos dias de hoje são incomparavelmente menores do que os argentinos, à época.

Comenta-se que Janja tem palpitado na administração pública, o que não se duvida. Mas em tempo de forças políticas muito divididas, como hoje, a influência da esposa junto ao esposo presidente há de ficar muito estreita e reduzida.

Na política argentina, sob Evita, o Poder centralizava-se no Presidente Juan Peron, daí porque o dilatado poder de Evita influenciar. Esta que foi intitulada “Benfeitora dos Humildes e Chefe Espiritual da Nação”.

Com efeito, Evita acordava ministros, com seus telefonemas a desoras, e ordens de seu nuto; portava-se como sombra do marido; mas morreu na juventude de seus 33 anos, vítima oncológica; só não foi candidata a vice-presidente porque o câncer já lhe trazia a morte por perto; e até hoje tem devoção como Santa, por muitos Hermanos.

Os Montoneros, grupo guerrilheiro que, por volta de 1.970 deu trabalho aos militares da ditadura platina, cantavam, com gritos e rufar de tambores “Se Evita vivera, seria montonera.”

Não se espera que Janja se desponte totalmente como Eva Duarte de Peron, Robin Hood daqueles anos. Mas Santa, sim, como aquela veio a ser considerada. Todavia, já está se mostrando, quando diz “Não é porque eu sou mulher do presidente que vou falar só de batom” (Veja de 10.11.23, página 24).

Janja pode muito bem santificar-se para o povo brasileiro, por ações até menores do que a outra esposa presidencial. Basta que se esforce. Que tal colocar na cabeça de Lula (cabeça algo dura, mas cuja obrigação é de bem servir ao país), nomear pessoas com reais méritos para cargos importantes da nação?  E, sobretudo, enfatizar a responsabilidade que Luiz Inácio tem, como depositário da esperança de grande parte dos sofridos habitantes desta terra brasileira. Isto se dando – no que tenho firme esperança – Janja será santificada.

Para Deus, nada é impossível.

O autor é Advogado militante na Comarca de Rio Claro (OAB/SP 25.686) e Desembargador Aposentado (TJ/SP).

E-MAIL: oliveiraprado@aasp.org.br

 

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