ULISSES É NOSSO !?
Sem os sinais exclamatório e o de interrogação, vi cartazes de papel, colados em postes, muros, paredes, e em tantos outros lugares (isto era permitido pela Lei Eleitoral), em 1.958, ao início do ano letivo.
Foi à época em que, morador da Vila Indaiá – à qual me vinculo até hoje – foi-me permitido cruzar a porteira da Avenida 8, sobre os trilhos da gloriosa Paulista, para andar pela cidade. Em destino ao Ginásio Koelle, onde cursei o então quarto ano primário.
Verdade que a expressão me intrigava, até porque engraçadinhos rasgavam o “n”, transformando o pronome no substantivo “osso”. Mas logo, em casa, foi-me explicado. Eram resquícios da campanha à Câmara dos Deputados, em que Ulisses foi vencedor nos anos anteriores.
O ilustre político rioclarense – quiçá dos mais proeminentes – nasceu em Itaqueri da Serra (06/10/16), bairro de Itirapina, que era Distrito de Rio Claro. Veio a óbito em trágico acidente aéreo, em 12 de outubro de 1.992, há trinta anos.
Com tristeza, não vi das autoridades, nem de políticos municipais, nada que fizesse lembrar a dolorosa efeméride. Certo que a Fundação Ulisses Guimarães, em Rio Claro, quase não existe.
O que me ocorre é que “Ulisses é nosso”, como se apregoava em suas campanhas, não implicou em recíproca consideração. Rio Claro (e seus eleitores) não foi de Ulisses, em proporção que se mostrasse honrosa.
Eleito e reeleito Deputado Federal por várias vezes, assumiu a frente de oposição à ditadura, anticandidato a Presidente da República (1.973), e candidato à presidência (em 1.989), e Presidente da Assembleia Constituinte, na promulgação da “Constituição Cidadã”, em 05/10/88, recebeu de seus conterrâneos votos com severa parcimônia, ultimamente.
Candidato a presidente (1.989), contrariando a direção de seu partido (quando ficou no sexto lugar), num colégio eleitoral de 82.971 eleitores, obteve mirrados 1.981 votos, em Rio Claro.
Já em 1.990, num eleitorado local de 83.709 votantes, foi aquinhoado com discretos 1.732 votos. Foi sua última eleição, tendo ficado entre os menos votados da legenda (PMDB).
E, muito pior, em 1.988, políticos de Rio Claro, inconformados com sua direção na Assembleia Constituinte, organizaram seu enterro simbólico (Estadão de 31.01.88). Ato de extrema descortesia e falta de educação, no qual participaram perto de duzentas pessoas, mas que mereceu algum destaque da grande imprensa. A macular a tradição rioclarense de respeito à democracia e de culto às regras da adequada convivência social.
Devo registrar – não sem uma ponta de orgulho – que o único partido local que se opôs à sobredita manifestação imprópria foi o P. D. T. (Partido Democrático Trabalhista), por instância de meu falecido pai. Este foi contra, fortemente, que o Partido de Brizola participasse do ato inglório.
Tenho isto por informação do jornalista e historiador rioclarense, J.R. Santana, e em uma “Carta Aberta aos Rioclarenses”, cujo autor foi o paternal pedetista.
Por estas e outras, devo afirmar que os eleitores rioclarenses estão em débito para com a memória do Senhor Diretas.
Ou será que atribuir à Avenida que cobre o Córrego da Servidão, na Vila Indaiá, o nome honrado de Ulisses da Silveira Guimarães – enquanto ainda vivo – terá sido suficiente homenagem?
Muito colaborou comigo, na pesquisa de informação eleitoral, diligente estagiária de meu escritório, a jovem Roberta Teixeira Leite, neta do advogado Benito Nazareno Sciarra Guimarães, primo de Ulisses.
O Autor é advogado militante na
Comarca de Rio Claro (OAB/SP 25.686) e
Desembargador Aposentado (TJ/SP).
E-MAIL: oliveiraprado@aasp.org.br
www.oliveirapradoadvogados.com.br
Publicado em 20/10/2022, Jornal Cidade (Rio Claro/SP), Página 02.
Aplausos pra vc amigo
Como de costume, ótimo texto. Não sabia que Itirapina foi distrito de Rio Claro.