GURGEL VEÍCULOS.

Aos rioclarenses mais antigos não deve ter passado desapercebido a importância da Gurgel para a indústria automobilística brasileira e para o esta Cidade Azul. Existiu em Rio Claro de 1.975, quando foi inaugurada a fábrica edificada em terreno próprio, e construída com recursos seus, até sua Quebra em 1.996.

Sobre a Gurgel fábrica e seu ousado empresário João Augusto Conrado do Amaral Gurgel, tenho três fatos marcantes em minha vivência.

No primeiro deles, por volta de 1.977, fui com meu pai, então vereador, visitar a fábrica. Lembro-me de dr. Gurgel ter-nos recebido amavelmente, falando da rigidez do que seria a lataria/carenagem de um seu carro, ao que parece de fibra de vidro, com estrutura de aço. Foi eloquente, e pediu ao meu pai que batesse com um pedaço de madeira, na “lataria” do veículo, que sequer foi arranhada.

Na oportunidade, respondendo a uma pergunta minha, disse que não ficaria dependente da Volkswagen, porque tinha contrato por prazo determinado para fornecimento de motores e cambio à sua empresa, mas que estava em seus projetos produzir na Gurgel tais equipamentos.

Noutra feita, na carreata em homenagem a São Cristóvão (julho/77), meu concunhado José Carlos Scheidt, que trabalhava na administração da Gurgel, pediu-me que a imagem do padroeiro fosse transportada por uma picape Gurgel, movida a eletricidade.

E não é que que as baterias perderam toda carga, a menos da metade do percurso. O que me deixou um tanto desconcertado, pois a organização da Festa estava sob minha responsabilidade, advogado que era do Sindicato dos Condutores Autônomos.

Mas, nas proximidades da avenida 14, avenidas 9 e 11, deparei-me com uma Kombi picape, estacionada numa garagem residencial. Falei com o morador, e ele até ficou agradecido pelo convite (o que muito me aliviou), e pela honra de transportar o Santo.

A última lembrança que tenho do dr. Gurgel é quanto ao seu entendimento, quiçá na mesma época atrás referida, sobre o uso do álcool, ou etanol, como combustível automotor. Dizia que, para produzir este combustível pobre, gastava-se combustível nobre (o diesel).

Sua opinião não mereceu acolhida. E o álcool, energia renovável, continua com grande importância em nossa matriz energética. O difícil é o brasileiro entender porque o etanol, extraído de cana de açúcar plantada em solo brasileiro, acompanhe a variação do preço do dólar. Como se dá com a gasolina e o diesel, importados e adquiridos em parte, do mercado internacional.

Ocorreu-me de escrever sobre Gurgel a leitura recente do livro “Gurgel – Um brasileiro de fibra”, escrito por Lelis Caldeira, Editora Alaúde, 2.008.

Muito de dr. Gurgel e da Gurgel Automóveis eu já sabia, mas a obra registra, com felicidade, a epopeia que foi o sonho de se construir uma indústria automobilística realmente nacional, que se materializou, mas não cresceu por motivos impeditivos que se somaram: falta de apoio governamental, crédito difícil e caro, falta da palavra dos governadores de São Paulo e do Ceará, e uma primeira e posteriormente revogada falência. Jamais a qualidade dos diversos veículos fabricados, quase todos ainda em circulação.

O fato é que a falência foi inevitável, e deve estar prestes a se encerrar, se é que já não se encerrou.

Pena que Rio Claro tenha perdido a sede de uma indústria automobilística genuinamente brasileira. Em arrecadação tributária e mercado de trabalho, principalmente. E pena que suas instalações não pudessem ter sido de interesse das diversas montadoras que se instalaram no país nos últimos anos.

O autor é

Advogado militante nesta Comarca (OAB/SP 25.686).

E-mail: oliveiraprado@aasp.org.br

WWW.oliveirapradoadvogados.com.br

Publicado em 05/05/2022,  Jornal Cidade (Rio Claro/SP), Página 02.

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