ALGUNS AMORES DE TARSILA

Todos sabem muito sobre Tarsila do Amaral, mulher belíssima, muito rica em boa parte de sua vida (1886 a 1973), de bom gosto ao vestir-se e no portar joias. Com a riqueza do café de seus pais, estudo na França,  e outras capitais da Europa,  cultura universitária e pintura.

Muitos a consideram a maior na sua arte. Seus quadros (Abaporu, Urutu, Antropofagia e Lua, dentre outros) são muito conhecidos, e atingem valores elevadíssimos.

Conquanto soubesse eu que a grande dama estava à frente de seu tempo, em termos de amores e casamentos, livro escrito pela filha (Ana Luisa Martins) do companheiro de Tarsila (o escritor Luis Martins) que, findo o romance casou-se com a mãe da Autora, Anna Maria Martins, também escritora, trouxe-me  algo de surpreendente. Na medida que narra o comportamento dos ex-amantes e ex-companheiros, findo o romance, e que se mostra pouco comum, mesmo nos dias de hoje.

Tarsila, que já tivera outros casamentos, viveu maritalmente com Luis Martins por 18 anos. Sendo Anna Maria, a eleita deste, parente próxima de Tarsila, esta não se tornou inimiga da mulher de seu ex-companheiro, permanecendo amiga de Luis até quando  morreu.

O livro “Aí vai meu coração – as cartas de Tarsila do Amaral e Anna Maria Martins para Luis Martins”, Global, 2.010, tomei emprestado de Vania Maria. E tomei quer dizer trouxe-o comigo numa tarde, compulsoriamente, pois ela estava com a leitura pela metade. Mas eu o devolvi logo, li-o em duas noites, tão fascinante foi o que encontrei no conteúdo de tais cartas.

A bem da verdade, e digno de destaque, embora assim deva ser sempre, é o mostrado a respeito do pós romance e vida marital.

Por carta e pessoalmente, Tarsila desejou a felicidade da nova  mulher de seu ex-marido; e este visitou Tarsila, após a separação, às vezes com a filha, por razões de elevada amizade que permaneceu, em homenagem, e por conta dos anos de amor e respeito mútuos, em longa convivência.

Parte do afirmado por Luis Martins a Tarsila, findo o romance, é visto à página 159: “Até você acertar a sua vida creio ser de minha obrigação   não a desamparar. Gostaria que não apenas nesse terreno econômico, mas também no afetivo e sentimental, você aceitasse de mim tudo o que lhe posso dar —  e que é a minha profunda e sincera e inalterável amizade, todo o meu afeto, todo o meu carinho, a minha ternura – uma afeição nascida da uma intimidade de 18 anos que a gente não pode esquecer.”

E, ainda, o que Tarsila escreve para Luis (página 182): “Escreva-me Luis, pode abrir seu coração como você fazia. Tenho forças para ouvir tudo. Sou sempre sua amiga e esta amizade tão arraigada, tão sincera, nunca será destruída.”

Eu agora pergunto, quantos casos semelhantes, deste período de amizade após separação, o leitor conhece?

De minha parte, estou procurando semelhante relacionamento pós separação, como o vivido por Tarsila e Luis, e como deveriam ser todos, quando o amor não mais aproxima e une os casais.

E mais não digo, por temer que já o disse além da conta, pelo risco doméstico, com meus aplausos aos biografados amorosamente, cuja bem querência mostrou-se eterna e permanente. E, sobretudo, invejável.

  1. S. Registro, com alguma alegria, a agradável coincidência. Já redigido este, surpreendeu-me o artigo/reportagem “Quadro Crítico”, na Veja do último dia 30, páginas 80/82, sob a redação de Amanda Capuano, informando sobre a recente descoberta da suposta obra de Tarsila (Paisagem 1925), e disputa entre seus herdeiros.

 

O Autor é Advogado militante na Comarca de Rio Claro (OAB/SP 25.686) e Desembargador Aposentado (TJ/SP).

E-MAIL: oliveiraprado@aasp.org.br

 

Publicado em 05/09/2024,  Jornal Cidade (Rio Claro/SP), Página 02.

 

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