O RATO QUE RUGE

O título acima é de um filme da Columbia Pictures, que assisti há mais ou menos cinquenta anos, quiçá no falecido Cine Tabajara, cujo prédio fica na rua Um com Avenida Vinte e dois, onde se encontra instalada uma loja enorme, que vende de um tudo.

Socorrendo-me da Wikipédia, o nome do filme, no original é “The mouse that roared”, comédia britânica de 1959, dirigida por Jack Arnold, e tendo como protagonistas Peter Sellers e Jean Seberg.

A película trata de um minúsculo e fictício país (Fenwick), cuja economia, baseada na exportação de vinho, estava arruinada porque o principal importador (Estados Unidos) havia desenvolvido produto similar e mais barato.

Um dos próceres do pequeno país aventou que deveriam declarar guerra à nação americana. Iriam perder e, como ocorreu com os perdedores da Segunda Guerra Mundial, haveriam de ser beneficiados com ajuda igual à do Plano Marshal.

A carta de Declaração de Guerra foi motivo de riso na Chancelaria Americana, perdeu-se na papelada ministerial, e foi esquecida.

A força de ataque, composta de 22 guerreiros armados de arco e flecha invadiu Nova Iorque, completamente vazia. Todos estavam abrigados nos subterrâneos da Grande Maçã, para não serem atingidos pelos efeitos de poderosa bomba, que seria testada.

E não é que heroicos soldados invasores, vagando pelas ruas e avenidas da grande metrópole, por mero acaso, cruzam com o inventor da bomba, com ela, e ao lado do filho. São presos, juntamente com alguns oficiais americanos.

Sabendo que a poderosa Bomba K, capaz de destruir todo o continente estava em poder do inexpressivo país, os americanos renderam-se e ainda pagaram a Fenwick um milhão de dólares, restabelecendo a importação de vinho, como antes.

O Capitão Presidente falou, dias atrás, a propósito de declaração do presidente Biden (que não foi citado nominalmente), mas seria o chefe de estado de grande país que teria prometido dificuldades comerciais ao Brasil. Se o país não cuidasse da proteção da Amazônia, quanto a incêndios e desmatamento.

Disse, como todos devem estar lembrados que, caso não pudesse ser superado pela diplomacia “… quando acaba a saliva, tem que ter pólvora, senão não funciona”. Saliva seria a diplomacia e pólvora a guerra.

Ao ouvir a lunática afirmação do Capitão Presidente, no mesmo instante, veio-me à memória o filme que dá título a este artigo. Será que o Presidente Bolsonaro vai declarar guerra aos Estados Unidos, caso o afirmado, com oportunidade, pelo Presidente Biden não seja desconsiderado? Espera com a inevitável derrota ser agraciado com ajuda semelhante ao Plano Marshal?

Se a ameaça presidencial não esvair-se, é bom lembrar que os americanos já viram este filme. E que agora o final deve ser diferente. Todas as bombas que dispõem já foram testadas. Sendo eles, como a China, nossos maiores parceiros comerciais.

Mais: por certo daqui a alguns meses o amigo Trump já não será mais presidente da grande nação do Norte, e Biden pode não gostar nada da teratológica e hipotética declaração de guerra.

Mais uma vez, nossa Justiça Eleitoral demonstrou que é uma instituição modelar. As votações e a apuração transcorreram-se sem anormalidades, e os resultados aceitos, com rápida apuração. Juízes, servidores e voluntários merecem cumprimentos e homenagens de todos nós, pelo excelente e gigantesco trabalho.

 

Autor é Desembargador Aposentado (TJ/SP)
e advogado militante nesta Comarca (OAB/SP 25.686).
E_mail: oliveiraprado@aasp.org.br
www.oliveirapradoadvogados.com.br

 

Publicado em 19/11/2020,  Jornal Cidade (Rio Claro/SP), Página 02

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