A “MENIS” UM

Tomei posse como Juiz Substituto, na Circunscrição Judiciária de Taubaté, em 13 de novembro de 1979. Ou seja, há mais de 38 anos.

Naqueles tempos, aparentemente mais tranquilos do que hoje, no Fórum de lá havia um Apartamento destinado aos Juízes Substitutos que, como no meu caso, não se mudavam para Taubaté com a família. O que era comum, dado que o Magistrado Substituto acaba pouco ficando na sede da circunscrição.

Nunca estive tão bem tratado como fui pelos colegas que lá militavam (Justino Magno de Araujo, Ricardo Arcoverde Credie e Paulo Garcia Guimarães, nas Varas Cíveis – hoje Desembargadores aposentados, e na Vara Criminal o precocemente falecido Flair Carlos de Oliveira Armani).

Ao par de me orientarem  com a maior boa vontade,  eram carinhosos por demais. Criaram até uma escala para que eu almoçasse um dia na casa de um, e jantasse na de outro. Além do que, uma delicada copeira do Fórum – cujo nome a memória me falha – levava-me diariamente o café da manhã.

Como havia vaga na circunscrição de Piracicaba, solicitei remoção para cá, tendo o então corregedor Geral, o Desembargador Junqueira, deferido de pronto, observando que para ele e para a Magistratura, não era bom Juiz longe da família. Em 02 de janeiro de 1980, já estava eu trabalhando em Pira.

Naqueles dias tive como colega de apartamento, com entrada externa no prédio do Fórum (até hoje cercado e ensombreado por frondosas palmeiras), um promotor substituto. Era carioca e bem falante (evidente pleonasmo), de sobrenome Hungria, com quem nunca mais tive contato, e que havia atuado num Júri em São Luiz do Paraitinga, Comarca da Circunscrição de Taubaté.

Contou-me Hungria que, ao final dos trabalhos da sessão de julgamento, o réu havia sido condenado por seis votos a um (na época colhiam-se todos os votos, e não apenas a maioria, como hoje). Foi então que o réu,  pessoa simples, pediu ao Magistrado Presidente do Tribunal, que lhe permitisse  falar por alguns  instantes. Ainda que sem previsão legal, o pleito do réu foi deferido. Por liberalidade, portanto.

E, segundo o que Hungria, presente ao ato, viu e ouviu, assim se manifestou mencionado réu, por certo não satisfeito com o resultado do julgamento:

“Meritíssimo Juiz: eu quero que Vossa Excelência, o doutor Promotor, meu advogado, o escrivão, o oficial de justiça, e os jurados, a ‘menis’ um, vá tudo a p. q. p.”

Ninguém foi para onde mandado, mas todos que sabem da história, especialmente eu, sempre que sobra um em qualquer situação, já sai um automático “a menis” um. Se quem ouve não sabe da história, invariavelmente acaba ficando sabendo.

 

Irineu Carlos de OLIVEIRA PRADO

Desembargador Aposentado (TJ/SP).

Advogado militante nesta Comarca.

e-mail: oliveiraprado@aasp.org.br

www.oliveirapradoadvogados.com.br

Publicado em 09/02/2017, Jornal Cidade, Página 02.

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