“STAFF” ESQUECIDO
De Rio Claro, até os anos de 1960, havia o Ramal de Analândia, da então Companhia Paulista de Estradas de Ferro, que atendia, também, as estações de Corumbataí, Ferraz, Ajapi e Cachoerinha.panerai replica watches
Era servido apenas por uma composição, com três vagões (primeira e segunda classe e bagagem/correio/tripulação), tracionados por uma locomotiva a vapor, em bitola métrica.patek-philippe Replica
A composição e a tripulação pernoitavam em Analândia. Partida às oito horas, com chegada em Rio Claro às nove horas; depois partida de Rio Claro às dezessete horas, e chegada em Analândia às dezoito horas. Tudo aproximadamente por que o meu catálogo de horários de trens da Paulista está desaparecido. replica watches
Na Paulista, que explorava o ramal até que por decisão do Governo Estadual, sendo Governador Laudo Natel, o ramal foi extinto, a segurança do tráfego sempre foi de alto padrão. Como em todas as suas linhas.Replica Watches UK
Para evitar que dois trens viessem a circular na mesma linha, que era única em ambos os sentidos, adotava-se o sistema “staff”. Peça com a função de chave, mas em formato de bastão de metal que, atado a uma argola de cabo de aço revestida de couro, em poder do maquinista ou seu ajudante, era garantia de que só uma composição trafegava naquele sentido: a sua.
Somente com a chegada na estação seguinte, introduzida a chave (“staff”) no aparelho respectivo, é que a linha seria liberada. Com isto, o “staff” era de porte mais do que obrigatório.
Numa certa manhã, hora de partida de Analândia, estando na sala do Chefe da Estação, este, o Chefe do Trem (cujo nome sei, mas não divulgo) proferiu os dois silvos de seu apito de boca, e o Maquinista, acionou a sirene a vapor para os correspondentes dois apitos, também atento à bandeira verde do seu colega. E o trem se foi, majestoso e resfolegante.
Minutos depois, antes de chegar à estação seguinte, o trem sofre uma parada inesperada, e o maquinista se dirige ao Chefe do Trem, discretamente: “você não sabe o que aconteceu. Esqueci o ‘Staff’’ na mesa do chefe da estação.”
Decidiram, então o que poderiam fazer. E o trem voltou de ré, na velocidade possível, o “staff” foi recolhido, e todos chegaram no horário, em Rio Claro, e em todas as estações do percurso.
Ocorre que um passageiro indagou porque voltaram, e o Chefe do Trem disse algo como a necessidade de substituir alguma peça indispensável. Enfim, o incidente gravíssimo parecia ser superado, ao menos aparentemente.
O passageiro curioso, de elevado nível, em reunião social na São Paulo da garoa, teceu elogios à Ferrovia, explicando a seu interlocutor, o incidente que presenciara, com prontas e imediatas providências da tripulação do trem em que viajara.
É bom lembrar que, por muitos anos, o trenzinho era o único meio de transporte coletivo até Analândia e região. Passageiros vinham e voltavam até Rio Claro pelos trens rápidos da bitola larga, e iam e voltavam até Analândia, pelo Ramal.
O interlocutor do passageiro, na capital, era diretor Inspetor Geral da Cia Paulista de Estradas de Ferro. Na hora percebeu do que se tratava aquilo referido como a peça comentada, a ser substituída.
E, com isto, aconteceu o previsto: séria bronca no Chefe do Trem, ocupante da primeira classe na categoria, e ao Maquinista no mesmo nível funcional. Não sei se sobrou algo para o Chefe da Estação, mas para aqueles ainda aconteceu mais: trinta dias de suspensão, sem salário. Na verdade, poderia ser pior.
Não posso escrever sobre o trenzinho de Analândia, sem me lembrar de colegas do Alem, entre 1959 e 1962. Nas cidades da região, especialmente as servidas pelo ramal, e em Itirapina e Santa Gertrudes, não havia o então Ginásio. E a Organização Escolar Alem, onde estudei, também naqueles anos, tinha o Ginásio no período vespertino, bem de acordo com os horários do trenzinho, e dos trens da bitola larga. Não falo em nomes, porque esqueci o de muitos. Citar só o de alguns, ou apenas os apelidos, não ficaria bem. Muitas saudades.
O Autor é Advogado militante na Comarca de Rio Claro (OAB/SP 25.686) e Desembargador Aposentado (TJ/SP).
E-MAIL: oliveiraprado@aasp.org.br
Publicado em 31/10/2024, Jornal Cidade (Rio Claro/SP), Página 02.
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