NOVE DE JULHO

Filho e neto de getulistas, desde garoto, o que prendi de meu pai (o avô não conheci, morto cedo), sobre a Revolução de São Paulo, em 1932, é um pouco diferente do que se comenta nos dias atuais. Ou seja, clamor do povo paulista pela constituição, e enfrentamento popular e heroico da Ditadura.

Sempre ouvi que a ditadura de Getúlio não era das mais rígidas (como se possível fosse a existência de despotismo suave). Que a revolta não seria tão popular, mas dos magnatas do Café, e que São Paulo pretendia separar-se do país.

Adulto, procurei separar ou afastar aquilo que o devotamento ao Grande Líder pudesse estar fantasiando.

Deve ter pesado no que meu pai recebeu de meu avô que este, como militante das hostes getulistas, esteve preso político quando os revoltosos de Ribeirão Bonito assumiram a administração da Cidade.

Verdade que em 1.964, ou seja, 32 anos depois, sendo meu pai Vereador nesta Rio Claro, eleito pelo P. T. B. – Partido Trabalhista Brasileiro, fundado por Vargas, e tendo João Goulart presidente do partido e da República, foi preso político, pelos que se diziam revolucionários.

Confesso que fiquei um tanto preocupado se em 1.996, não seria eu, decorridos outros 32 anos, o preso político da família. Tal não se deu. Minha militância política era nenhuma, como Juiz de Direito na Capital, e o regime democrático estava mais ou menos consolidado.

De todo modo confesso que, num ponto – São Paulo separado do Brasil – fosse verdadeira esta pretensão revolucionária, gostaria que guerra civil fosse vitoriosa.

Os leitores já imaginaram o que seria a República de São Paulo? Grande produtor agropecuário; indústria desenvolvida, maior arrecadação de tributos federais agora paulistas (não mais de Brasília, em sua maior parte); as melhores escolas; boas estradas, etc.,  etc.

Sem depender de Brasília onde, hoje e quase sempre, os mais importantes cargos não são ocupados por paulistas. Pode parecer um delírio. Mas seríamos pais de primeiro mundo. Sendo que nos dias atuais o Estado de São Paulo fica muito dependente do Governo Federal, que pouco investe em terras de São Paulo, desconsiderando a arrecadação de tributos federal com as cores paulistas.

Mesmo quando oriundos de S. Paulo, foram eleitos presidentes da República, cercados de deputados e senadores doutros estados, ainda que munidos das melhores intenções, não gastaram em São Paulo parte substancial do que aqui arrecadam os cofres federais.

Notem que fora de São Paulo todas as Universidades são Federais, o mesmo ocorrendo com as rodovias menos piores.

De onde são os presidentes do Senado e da Câmara dos Deputados? A composição dos Tribunais Superiores, do Poder Judiciário e de Contas não têm composição que represente a população bandeirante, seu eleitorado, ou mesmo a arrecadação de Tributos Federais daqui oriunda.

O mesmo se dá com o Ministério, e com elevados cargos federais. Mesmo Federações Esportivas (C. B. F., por exemplo), entidades de classe (C. N. I. C. N. A. SESI, SENAI, etc.).

Mesmo a representação de nosso Estado, na Câmara dos Deputados, com setenta deputados é inferior, proporcionalmente, a muitos Estados. Fosse considerada a população ou os eleitores, São Paulo haveria de ter bancada de cem Deputados Federais, aproximadamente.

É claro que os critérios legais e constitucionais foram estabelecidos pelo temor da grandeza de São Paulo. E é por demais triste constatar que São Paulo, por inveja ou despeito de Estados menores, acabe tendo representação menor do que deveria.

Choremos, também por estas razões, o insucesso da Revolução Constitucionalista, iniciada em nove de julho de 1932, com o sangue do heroico povo paulista, que muito trabalho deu às tropas federais.

 

Advogado militante nesta Comarca (OAB/SP 25.686).

E-mail: oliveiraprado@aasp.org.br

WWW.oliveirapradoadvogados.com.br

Publicado em 15/07/2022,  Jornal Cidade (Rio Claro/SP), Página 02.

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