O PREFEITO GRACILIANO RAMOS

Eu já sabia, há um bom tempo, que o célebre escritor Graciliano Ramos (Vidas secas, Caetés, Memórias do Cárcere, e outros) havia sido Prefeito de Palmeira dos Índios, Estado de Alagoas, por volta de 1.930.

Porém, lendo recentemente uma coletânea de biografias e comentários sobre grandes nomes nacionais (“Brasileiros”, organização de José Roberto de Castro Neves, Nova Fronteira, 2.020), deliciei-me com a leitura do artigo sobre o festejado alagoano, com detalhes interessantes sobre sua eleição a Prefeito do importante município (a cargo de Elisabeth Ramos, sua neta) e sua administração.

Como ainda é época de início dos mandatos nas prefeituras de todo o país, vou-me permitir alguma observação. Com a grande esperança de que todos, principalmente o nosso Prefeito, à moda de Graciliano, cumpram seus mandatos com tamanho êxito, de sorte a serem contemplados com a reeleição.

O artigo conta que Graciliano relutou a aceitar sua candidatura. O Prefeito anterior havia sido assassinado em fevereiro de 1.926. Os amigos da política estadual acabaram por convencê-lo a aceitar a candidatura do então pequeno comerciante (Loja Sincera) e ex-seminarista, com atividades na Junta Escolar do Município, eleitor e jurado.

Sua relutância teria sido superada pelo que seus adversários estavam a falar dele: medo de ser derrotado e de fracassar como administrador.

Eleito, administrou o município por dois anos: 1.929 e 1.930. Ao fim de cada exercício apresentou relatório ao Governador, em redação menos formal do que o estilo de ofício. Mas esclarecedora. Não poderia ser diferente por quem haveria de ser consagrado escritor.

Em 1.930 renunciou ao mandato e, encerrando as atividades de seu pequeno comércio, mudou-se para Maceió, para atuar como diretor da Imprensa Oficial do Estado.

De se esperar que tivesse alguma dificuldade para o exercício de seu mandato. Ao suprimir despesas desnecessárias e não atender pedidos de amigos. Sem rol de devedores, teve imensa dificuldade para receber os créditos municipais. O povo, quase que só de compadres, “está habituado a pagar à Prefeitura se quer, como quer, e quando quer”.

Sobre a resistência dos opositores, informa: “Pensavam uns que tudo ia bem nas mãos do Nosso Senhor, que administra melhor do que todos nós; outros me davam três meses para levar um tiro. ”

Desenvolveu gigantesco esforço moralizante na conduta do funcionalismo municipal: “Dos funcionários que encontrei em janeiro do ano passado restam poucos. Saíram. Saíram os que faziam política e os que não faziam coisa nenhuma. Os atuais não se metem onde não são necessários, cumprem suas obrigações e, sobretudo, não se enganam em contas. Devo muito a eles”.

Sua administração — firme e honesta – trouxe descontentamento aos que não se sentiram confortáveis com a lisura de suas decisões políticas e administrativas.

Em Maceió foi preso (março 1936) sem processo. Transferido para o Rio de Janeiro, onde se consagrou como escritor, e esteve preso político, até janeiro/1937, sob acusação de envolvimento no que se chamou de Intentona Comunista (1.935). “Memórias do Cárcere” é sobre seu período de prisão, e foi publicado em outubro de 1.953, postumamente.

Graciliano viveu de 27.10.1892 a 20.03.1953. Suas obras, de forte apelo social e nordestino, repercutem universalmente.

 

 O autor é Desembargador Aposentado (TJ/SP) e

Advogado militante nesta Comarca (OAB/SP 25.686).

E-mail: oliveiraprado@aasp.org.br

WWW.oliveirapradoadvogados.com.br

Publicado em 11/02/2021,  Jornal Cidade (Rio Claro/SP), Página 02.

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