FUNDAÇÃO DO SINDICATO

Sempre disse que uma das grandes honras que levarei comigo para sempre — até quando me apresentar ao Supremo Julgador — é ter colaborado com a fundação de quatro Sindicatos de trabalhadores em Rio Claro, e um em Piracicaba. E de uma Cooperativa de Transportadores Autônomos.

Mas a fundação do Sindicato dos Condutores Autônomos — o primeiro que ajudei a fundar — teve um principiar insólito.

No mês de março de 1972, fui contratado para acompanhar um rapaz de origem nortista, até a Delegacia de Polícia de Cardoso, na Região de Rio Preto, para prestar esclarecimentos.

Acreditei na versão dos fatos que me deu o cliente e, contratados os honorários, concordei em acompanhá-lo, conduzidos ambos por um táxi do João Ismael Bertolin, do Ponto do Mercado, e que hoje é caminhoneiro aposentado, além de exímio sanfoneiro. Além de grande pé-de-valsa.

Na Delegacia de Cardoso a situação era bem diferente. Meu cliente estava envolvido, com outros de Rio Claro, na compra de porcos com cheques sem fundos, e acabou ficando preso, juntamente com outro rioclarense, que levara em carro próprio, para acompanhá-lo nos esclarecimentos ao Delegado, o Dr. José Carlos Rocco. Havia um terceiro envolvido, que já prestara esclarecimentos e estava sendo colocado em liberdade, também de Rio Claro.

Diante da situação, coube-me apenas ajuizar uma ação de “Habeas corpus” sob fundamento de que o cliente estava sendo injustamente preso, sem flagrante e sem ordem judicial. Acolhida, pois o cliente me procurou dias depois. E pagou meus honorários, exatamente como combinado.

No final da tarde, voltamos para Rio Claro, o motorista (João Ismael), eu, o Dr. Rocco e, por solidariedade o outro rioclarense, num Fusca, táxi mirim.

Foram seis ou mais horas de viagem e, para passar o tempo, conversamos de tudo: política, futebol, justiça, os fatos determinantes da atividade policial em Cardoso, etc. Até que numa hora João Ismael falou do serviço dele.

Dizia que, como ainda não havia taxímetros nos carros de aluguel em Rio Claro, estava sendo desenvolvida uma campanha prejudicial à categoria, no sentido de que os preços cobrados ficavam por conta dos taxistas, que cobravam o que queriam, sem qualquer tabelamento. João Ismael, rapaz esclarecido ponderava que estava muito difícil para os taxistas se defenderem da campanha, por falta de uma entidade representativa que pudesse, em nome deles, tratar do assunto na Prefeitura e em outros órgãos, inclusive de imprensa.

E João Ismael, também filho de ferroviário, e conhecedor da atividade sindical de meu falecido pai, acabou por indagar-me se não poderia ajudar os taxistas a se organizarem sindicalmente. Aceitei serviço.

Após algumas reuniões no meu escritório, foi convocada assembleia, no salão da Associação Comercial, para o dia 12 de junho de 1972, quando foi fundada a Associação Profissional dos Condutores Autônomos de Veículos Rodoviários de Rio Claro, posteriormente transformada em Sindicato.

João Ismael foi eleito o primeiro presidente da Associação Profissional, que posteriormente após transformação em Sindicato, foi presidida pelos saudosos José Carlos Fuzaro, Waldemar Carminatti, Silvio Campião, e Mario Pedersen (Marinho), prestando até hoje relevantes serviços a seus associados: taxistas, caminhoneiros, perueiros, todos motoristas autônomos.

Em 1980, por poucos dias, fui Juiz de Direito de Cardoso, minha primeira Comarca. E de 2.000 até 2.013, advogado do Sindicato.

NOTA. Este artigo já estava escrito, quando soube do passamento à vida eterna (em 04 último), do João Ismael Bertolin, um dos fundadores e primeiro presidente da entidade, como esclarecido acima. Diante disto, faço aqui homenagem ao caríssimo amigo e também cliente, formulando votos para que o Todo Poderoso propicie à família o necessário conforto.

 O Autor é Desembargador Aposentado (TJ/SP)

e advogado militante nesta Comarca (OAB/SP 25.686).

E_mail: oliveiraprado@aasp.org.br

www.oliveirapradoadvogados.com.br

Publicado em 14/01/2021,  Jornal Cidade (Rio Claro/SP), Página 02