TEOCRACIA, CUIDAR DE LIVROS & DEUTERONÔMIO.

Gosto muito de me lembrar dos tempos escolares, de ginásio e colégio, como antigamente se chamavam os hoje cursos de primeiro grau. Com a tolerância de meus heroicos leitores, hoje contarei alguns casos que reputo interessantes.
Aula de História Geral, no 1º ou 2º Clássico, Colegial para os que pretendiam cursar faculdade de letras e ciências humanas, inclusive Direito. Os demais eram Cientifico e Normal, destinado aos que pretendiam cursar Engenharia e Medicina (no primeiro) e formação de professores primários (no segundo curso). Isto em 1.963 e 1.964. Aula do professor Barros, um pouco temido pelos alunos, sendo algo rigoroso.
Pelas tantas, Prof. Barros, já que se estudava sistemas de governo na Idade Média (se a memória não me trai), indagou da classe (12 alunos, se tanto) se algum saberia citar exemplo de Estado Teocrático, naquela época, já que na antiguidade, quase todos eram, sendo o chefe de Estado, também o chefe religioso. Generosamente, prometeu uma nota Dez para quem respondesse corretamente.
Antes dos demais, solerte aluno (ou seria aluna?) respondeu que Teocrático era Estado do Vaticano, em que o Papa é o chefe do governo e o líder religioso. Esta pequena conquista (nota Dez) muito alegrou ao aluno. Como alegra-me agora contar para os que vão-me ler.
Fosse hoje a indagação, vários seriam os Estados da pergunta, após o sucesso dos palestinos em suas guerras e revoluções: Irã, Afeganistão, Arábia Saudita, Mauritânia, Paquistão, etc.
Professora de Inglês no Alem, onde cursei o Antigo Ginasial, de 2ª. à 4ª. Série, Dona Vitória Alem – hoje lecionando na Eternidade – era mestra modelar. Católica, ao início e final de cada aula, convidava os alunos para com ela rezar, em inglês, a oração de Ave Maria. Suas aulas eram soberbas.
Além dos predicamentos acima, lembro-me do Conselho (ou seria ordem) de Dona Vitória, sobre cuidados com os livros: nunca dobrar a folha para marcar o que se desejasse. Dobrar a página, para a Mestra, era heresia. Que se marcasse a página com o marcador ou com outro papel. Jamais dobrar a folha. Não sei quanto aos colegas. Eu sigo o conselho até hoje. E sempre que vou marcar de onde devo continuar a leitura, lembro de Dona Vitória, com enorme saudade.
Aula de Geografia, na mesma época e curso do Estado Teocrático, acima tratada, o professor, cujo nome não consigo lembrar, mas que se confundia com o de um político paroquial, ministrava suas aulas de forma pouco comum naquele tempo.
Não recomendava livro e não oferecia anotação para apostila. Sua dúzia de alunos que tratassem de anotar as lições. Lembro-me que entre outros temas, estudamos a geografia econômica da União Soviética, e sua agricultura. Naquela ocasião falava-se muito da agricultura coletiva naquele país.
No início do ano letivo, o mestre, ao falar da importância de sua matéria – inegável, é claro – louvou-se no que dissera Deuteronômio, apresentado como filósofo da antiguidade.
Porém, na aula seguinte, e sem que nenhum aluno se desse conta, o mestre, superiormente, corrigiu-se. Deuteronômio é livro do Antigo Testamento, que trata de certa Palavra de Moisés, em que Geografia figura.

Autor é Desembargador Aposentado (TJ/SP)
e advogado militante nesta Comarca (OAB/SP 25.686).
E_mail: oliveiraprado@aasp.org.br
www.oliveirapradoadvogados.com.br

 

Publicado em 06/11/2020,  Jornal Cidade (Rio Claro/SP), Página 02

Você pode gostar...

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *