PROMESSA DE CAMPANHA

É cediço falar-se que os candidatos eleitos, de um modo geral, não cumprem as promessas de campanha.

Por estes dias, a grande imprensa está a comentar que o Capitão Presidente, quando candidato, prometeu acabar com a reeleição, agora mais se preocupa com sua recandidatura do que governa.

Este prometer e não cumprir lembrou-me do que me contou o então Deputado Federal Antônio Henrique da Cunha Bueno, por volta de 1976/77, na casa do falecido Emilio de Pilla (rua seis, quase esquina da Avenida Um). Dos presentes, além de Emílio, lembro-me apenas de Paulo Jodate, veterano jornalista.

Contou-nos o Deputado que durante sua campanha presidencial, bem-sucedida de 1960, numa pequena cidade do interior de Mato Grosso, o presidente Jânio Quadros, prometeu ao alcaide local que, se eleito fosse, providenciaria um gerador para que a cidadezinha pudesse gozar dos benefícios da energia elétrica.

Com Jânio eleito e empossado, o Prefeito apareceu em Brasília, para cobrar a promessa. Foi então que o presidente ficou sabendo que sua promessa não iria ser cumprida com rapidez razoável. A seu ver a compra de um singelo gerador não haveria de ser complicada.

Mas enganou-se. Dois dias depois de enviar um dos seus famosos bilhetinhos, com o que desejava do ministro destinatário, cobrou providências.

Recebeu a resposta que a burocracia governamental tinha na ponta da língua: precisamos consultar o orçamento, organizar licitação, aguardar os prazos legais, etc., etc.

Jânio – se verdade ou não – segundo o Deputado, foi claro com o Ministro. E o Deputado falou com o sotaque janista quase perfeito: “Se o Senhor não conseguir o gerador, com as características já informadas, para ser doado ao município tal, em quarenta e oito horas, não tem competência para ser meu Ministro. ”

O Ministro, cujo nome não me foi dito, continuou Ministro, e JQ cumpriu sua promessa eleitoral.

Como o Ministro venceu os obstáculos legais e burocráticos, nunca se soube. Mas o Prefeito voltou para sua cidade, com o gerador.

O Deputado estava em nossa cidade em campanha para sua reeleição, que deu-se brilhantemente. Prometeu ao Sindicato dos Condutores Autônomos (para quem eu advogava na oportunidade) um equipo dentário, entregue umas semanas depois.

Equipamento moderníssimo, que serviu aos associados do Sindicato por muitos anos. Doação oficial do Ministério do Trabalho.

Dizem – mas não sei ao certo, pois não é do meu tempo – que certo candidato a Prefeito de Rio Claro, em campanha pelos bairros da zona rural do município, num determinado comício, prometeu aos moradores, dentre outros benefícios, a construção de uma ponte. Como um dos assistentes do comício ponderasse que não havia rio no bairro, o candidato não deixou por menos: “faço o Rio, também”.

Foi no que deu a empolgação do candidato que, de todo modo, não iria cumprir, mesmo, qualquer promessa.

 O autor é Desembargador Aposentado (TJ/SP) e

Advogado militante nesta Comarca (OAB/SP 25.686).

E-mail: oliveiraprado@aasp.org.br

Publicado em 24/09/2020, Jornal Cidade (Rio Claro/SP), Página 02