LADRÕES BONZINHOS E DE PALAVRA

Como soe acontecer com os mais velhos, o que têm a contar são velharias. Algumas até interessante, como espero ser esta.

José Carlos Fuzaro foi amigo, quase irmão e padrinho de meu primeiro casamento, foi vice presidente da Associação Profissional dos Condutores Autônomos de Veículos Rodoviários de Rio Claro, isto em 1972. Com a transformação em Sindicato, foi eleito presidente.

Por volta de 1975, José Carlos se entusiasmou com o Ford Maverick Vermelho, 6 cilindros, que eu havia comprado. E logo depois comprou, para seu trabalho, como taxista no Ponto do Mercado, um Maverick Azul/75, 4 cilindros. E 4 portas, como necessário no seu trabalho.

Sem o menor exagero, era o taxi mais bonito que estava na Praça e, pela lógica do azar, haveria de ser, por certo, produto de furto ou assalto.

E não é que, nos primeiros meses de trabalho com o carro novo, num determinado dia, ao anoitecer, dois rapazes o contrataram, no seu Ponto, uma corrida para o lado par da Cidade. Algumas quadras depois da saída, anunciaram o assalto, levaram o carro e uma pistola Beretta. Presente que na época não se cogitava tanto de crime por porte da arma de fogo.

Vendo perdido o carro, Fuzaro passou a posar de empregado do proprietário do carro, com o risco de ficar desempregado.

Não se sabe se suas súplicas atingiram os corações dos assaltantes, mas o certo é que estes, ao libertarem Fuzaro, prometeram que, na manhã seguinte, o carro estaria a margem da Washington Luiz, na altura da Granja Regina (Arbor Acres S/A – Avicultura), hoje Condomínio Clube Home.

Em liberdade, Fuzaro foi ao Plantão Policial, para registrar a ocorrência, e lá narrou o que os malandros haviam-lhe prometido. Os policiais riram da vítima, e bastante, insinuando que ele deveria acreditar também, em Papai Noel, Coelho da Páscoa, Cegonha, etc.

Ocorre que, na manhã seguinte, José Carlos encontrou seu Maverick, no local prometido, e com mais gasolina do que quando subtraído. Apenas com algumas cápsulas deflagradas no piso do carro, e com a tampa do tanque de gasolina, quebrado. Pela perda de pistola, José Carlos não chorou.

Na época foram presos dois suspeitos, também de outros crimes, mas José Carlos não os identificou como sendo os autores do assalto em que foi vítima. Dos assaltantes não se teve notícias. Comentou-se que haviam usado o carro para assalto de um Posto de Gasolina em Araras.

Mas o ocorrido foi fato inédito, e deve continuar sendo. Sem dúvida que a vítima era protegida por Deus, especialmente na oportunidade, já que sua vida foi preservada. E a perda do carro, bem material – é certo – ser-lhe-ia muito penosa, já que o veículo era seu ganha-pão, e ainda não estava pago totalmente.

Anos depois, Fuzaro deixou a profissão, estabelecendo-se em Maringá, como comerciante. Há alguns anos foi ao encontro de Nosso Senhor. Por certo é um dos motoristas preferido por Ele, na condução da limusine celestial.

 (O Autor é Desembargador Aposentado (TJ/SP) e

Advogado militante nesta Comarca (OAB/SP 25.686).

E-mail: oliveiraprado@aasp.org.br

WWW.oliveirapradoadvogados.com.br

Publicado em 25/07/2019, Jornal Cidade, Página 02.

 

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