31 DE MARÇO OU 1º DE ABRIL

Em recentes meses, as redes sociais do presidente e filhos, como se nada de mais útil e importante existisse a fazer na administração federal, produziram mais uma controvérsia sobre o triste episódio ocorrido entre 31 de março e 01 de abril de 1.964.

Falou-se em comemorar e depois rememorar aquilo que, para todos, exceto a um grupelho ao redor dos altos dirigentes de nossa sofrida República, foi um Golpe de Estado.

Por mais que queiram afirmar que os militares não proferiram o golpe, estes poderosos da ocasião, e rebeldes desde a  morte por suicídio de Getúlio Vargas, e da eleição de Juscelino, já estavam determinados a tirar do povo brasileiro os mais elementares direitos, com destaque para o voto no presidente da República, e outros cargos Executivos. Também vieram criar o Governador do Estado eleito por voto indireto (como o presidente), e um terço dos senadores (acoimados de biônicos).

Tudo isso que chamou-se ousadamente de Revolução Democrática importou na cassação do mandato de senadores, deputados, governadores, tudo bem do jeito que os não cassados, por medo ou cumplicidade, acabassem votando para os cargos executivos que foram impostos pelos generais e ditador de plantão.

Prisões – todas arbitrárias – foram feitas às dezenas de milhares.

Aqui em Rio Claro, os vereadores, à exceção de três que eram do Partido do Presidente deposto, e que foram cassados sem qualquer direito de defesa e formalização de culpa, os remanescentes conseguiram a proeza de cassar, mandato que não o tinha, ou seja, de suplente de vereador.

O valoroso Sindicalista eletricitário José Crespo, por ameaças dos integrantes da mesa diretora da Câmara, e por situação familiar delicada, acabou renunciando ao mandato, que iria ser cassado. Foram cassados os eleitos pelo P. T. B. (partido Trabalhista Brasileiro) Anibal Fuzetti e Irineu de Oliveira Prado, meu querido pai.

Irineu já estava afastado da direção do Sindicato dos Ferroviários, mas tinha destacada liderança, entre seus colegas de Cia. Paulista, tanto que foi eleito com 1003 votos, e ocupava a segunda secretaria. Foi mais votado, sendo o segundo eleito com 500 e poucos sufrágios.

Passados cinquenta anos, a Câmara Municipal, pela Resolução 296/2014 (estando presente à sessão respectiva um dos antigos vereadores desprovidos de qualidades morais quando proferido o ato de violência e arbitrário) reconheceu o erro na sessão de abril/64 e prestou homenagem a todos, conferindo-lhes Diploma e reintegrando-os moralmente aos cargos que lhes foi tirado. Isto em 11.04.14.

A láurea, que conservo em local de honra do meu Escritório, tem os seguintes dizeres: “O Presidente da Câmara Municipal de Rio Claro, Estado de São Paulo, no uso das atribuições que lhe confere a Resolução 296/2014, expede o presente desagravo a IRINEU DE OLIVEIRA PRADO, por seu impedimento como vereador na legislatura de 1964 a  1968 e em saudação aos valores democráticos.

Os três vereados acima referidos, e quase todos os suplentes “cassados” já estavam na vida eterna. Muitos parentes estiveram na mencionada sessão, onde me foi permitido falar em nome da Família.

Prosseguirei oportunamente, para concluir de relatar os efeitos nefastos do Golpe e da Ditadura com minha família, certamente uma das muitas atingidas pela revolução de mentira, e dita democrática.

(O Autor é Desembargador Aposentado (TJ/SP) e

Advogado militante nesta Comarca (OAB/SP 25.6.86).

E-mail: oliveiraprado@aasp.org.br

WWW.oliveirapradoadvogados.com.br

 Publicado em 30/05/2019, Jornal Cidade, Página 02.

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